16.3.07

Andalucia - Sevilla III - Diário de Viagem




Sevilla, 24 de janeiro 2007 – sábado

“Pierna Rota”! Estes últimos dias foram muito punk. Estive simplesmente de perna engessada do tornozelo a coxa, sozinha no albergue da juventude em Sevilla.

Então... saímos de Granada sexta, dia 19, com nosso possante cor “naranja” e os planos eram passar por Sierra Nevada e depois ir a Ronda, uma cidadezinha que soubemos que e linda. Mas chegando em Sierra Nevada, as três brasileiras que nunca viram neve na vida se encantaram com a estação de esqui e já viu.... não resistimos a tentação.
Em Sierra Nevada as montanhas cobertas por neve não são suficientes pra pista de esqui então eles complementam com neve artificial, principalmente neste ano em que o inverno foi um dos mais quentes da Europa e não nevou nada ainda.
Mas pra quem não ta acostumado com neve, não faz a mínima diferença... hehe
Fomos numa “tienda de alquiler de ski” e alugamos a roupa e o equipamento. Contratamos uma hora de instrução de esqui pra sabermos como usar, e lá fomos nós.
Eu pensei que não ia dar conta nem de ficar em pé com aquela roupa de “astronauta da era do gelo” (nossa... a gente fica uma bolinha com aquelas roupas acolchoadas que eles alugam, achei que ia sair rolando quando caísse) e as botas alem de serem super pesadas, elas apertam tanto o pé... nossa... que desconforto medonho.
Não sei se a galera que compra o equipamento consegue ter umas botinhas mais adequadas aos tamanhos dos seus pés, mas fiquei impressionada como as que aluguei me apertavam. Credo!

Bom, apertos e desconfortos a parte, fui lá com toda a disposição pra aprender a andar naquela “jossa”, afinal, oportunidade de estar em uma estação de esqui não e algo que sempre rola...
E não e que peguei o jeito super legal. Consegui me equilibrar... tudo bem direitinho. Fiquei super empolgada. Ate cai, mas logo consegui me levantar, que não e nada fácil sem ajuda...
Este foi o problema, me empolguei demais na primeira hora... Achei que era mais fácil do que imaginava.... humm Desci 3 vezes a pista de iniciante, me sai bem, adorei a sensação e perguntei pro instrutor se já estava pronta pra mudar de pista. O louco do instrutor me disse que se eu me sentia segura, podia ir e nos apontou a pista ao lado como sendo uma das menos altas.
A Lu pediu arrego, disse que não queria mais brincar daquilo e foi-se embora. Eu e Tais, loucas e empolgadas, fomos pra tal pista. Pegamos o teleférico e subimos a montanha.
Acho que o que mais me empolgou na verdade foi andar no teleférico..foi muito gostoso estar ali, com aquela roupa de esqui...vendo a galera descer... naquela paisagem de montanhas com neve...lindo demais... gostoso demais.
O problema e que tudo que sobe tem que descer. E a descida e simplesmente uma descidaaaaaaaaaa de dar frio na barriga. Nossa... tudo que aprendi antes não foi suficiente para controlar os esquis. Pareciam que eles tinham vida própria. Se ganha uma velocidade e por mais que você tente frear, eles não param! Claro, né...sem pratica nenhuma, eu só fiz me estrepar. Caí a primeira vez... bati a cabeça....de leve., mas já deu pra assustar. Pensei: “caracoles, posso morrer aqui... “ Mas acho que justamente pra combater o medo me enchi de coragem, me levantei e continuei... caí de novo... e pensei: “quero ir embora daqui... sou louca de estar aqui”. Mas pra subir e pegar o bondinho de volta era impossível (não tinha resistência física pra subir com aquele equipamento, e muito difícil subir com o esqui!) e pra descer... como eu fazia?? Estava sozinha no meio daquela pista imensa só assistindo a galera descer na maior velocidade! Que gente louca, cruzes! Fora as criancinhas que estão acostumadas a ir todo inverno pra estação de esqui e descem na maior facilidade... nossa, que inveja!
Me levantei e lá fui pensando: “falta pouco”... E foi então que cai pela terceira e ultima vez.... Quando estava pra me estabacar surgiu um cara com snowboard caído na minha frente, eu ia cair em cima dele... pra e pra evitar, tentei fazer uma manobra com o esqui pra desviar dele... eu consegui desviar, mas em compensação eu torci meu joelho.. Aiiiii que dor!
Nossa... chorava de dor... e ainda não conseguir tirar a porra do esqui... Ate que apareceu uma alma caridosa pra me ajudar (porque varias pessoas passaram por mim, me vendo ali chorando de dor e não pararam... fiquei de cara). O cara era instrutor e me ajudou a tirar o esqui e chamou o carrinho de socorro.
Me tiraram dali e me levaram pra enfermaria.
Fui atendida como se tivesse sido só uma torçãozinha besta e que ia passar logo logo.
Voltei com as meninas no carro, desta vez no banco de traz, claro... tive que entregar a chave (que droga! Tava adorando pilotar o laranjinha pelas estradas andaluzes)... e voltamos pra Sevilla. Ronda ficou pra uma próxima vez...
Fomos pro albergue da juventude em Sevilla que e no mesmo nível do de Granada, excelente!
Acordamos cedo no dia seguinte e meu joelho doía demais, então as meninas antes de irem para o aeroporto, me levaram no hospital. Só que não puderam ficar la comigo pq senão perdiam o vôo pra Barcelona.
Fizeram raio x e viram que não tinha fratura, mas havia um estiramento do ligamento do joelho. Resultado, me engessaram e me colocaram num táxi de volta pra o albergue.
Cheguei no albergue e pra sair do táxi pulando de saci já foi um sacrifício. Minhas coisas estavam no guarda volume porque tivemos que entregar o quarto que era de 3 pessoas. O carinha da recepção me disse que não tinha quarto disponível pra mim pq o albergue estava cheio, com tudo reservado porque iam chegar excursões de jovens atletas para uma corrida que ia acontecer em Sevilla nos próximos dias.
Era dia 20 e meu vôo pra Madrid era apenas no dia 23! Eu me vi sozinha, sem conseguir andar, sem lugar pra ficar, com um mochilão pra carregar... comecei a chorar... desespero total.
O carinha da recepção percebeu a situação... e resolveu me ajudar... deu um jeito de arrumar um quarto pra mim. Ainda me colocou no primeiro andar, num quarto sozinha, com banheiro dentro. A camareira foi super gentil, saiu pra comprar meus remédios na farmácia e ainda lembrou que tinha uma cadeira de rodas guardada de alguém que usou uma vez tempos atrás e deixou lá...
Nossa... que maravilha! O Albergue tinha tudo... instalações super confortáveis, que nem a de um hotel. Café-da-manha, almoço, jantar e mais aquelas maquinas de café, refri e comidinhas no corredor. E o melhor: internet wi-fi!!!! Pronto. Eu não precisava de mais nada!
E ainda as meninas de Pelotas que conheci em Sevilla, a Liliane e a Natália, foram lá me visitar. Elas estavam de viagem marcada pro dia seguinte, mas fizeram questão de passar lá, me levaram lanchinho e ainda me ajudaram a tomar banho. Foram uns amores. Nunca vou me esquecer...
Apesar de só pensar em voltar pra casa nestes dias, eu passei bem, descansei (apesar do gesso me incomodar muiiiiito) e aproveitei pra fazer todas aquelas futilidades que nunca tenho tempo pra fazer, tipo ficar entrando no orkut, bater papo furado com todos os amigos no msn.... e aproveitei pra falar muito com o Ido, meu eterno e querido israelense, que esta sempre tão longe mas sempre presente na minha vida de alguma forma, principalmente quando eu mais preciso.
Skype e mesmo uma beleza! Nada como poder falar com as pessoas com tempo ilimitado...
Meu gesso começou a me incomodar muito..me colocaram pouco algodão e o gesso tava pegando..voltei no hospital pra trocar, mas me colocaram um pior ainda... Já estava pensando em voltar mais uma vez no hospital pra me trocarem de novo o gesso quando a amiga da amiga do Ivan J (Isso mesmo... o Ivan, meu amigo que me hospeda em Madrid tem uma amiga brasileira que tem outra amiga brasileira morando em Sevilla) me ligou oferecendo ajuda. Ela passou lá no albergue junto com duas amigas, uma portuguesa e outra peruana, pra me ajudar com o gesso. Levou alicate, tesoura... elas arrancaram a parte do tornozelo que tava me incomodando... e ainda se ofereceram pra me levar no aeroporto porque a portuguesa tinha carro.
Foi muito bacana perceber a solidariedade das pessoas nestes momentos!
Eu estava sozinha mas ao mesmo tempo percebi que não estava só, entende?
Essas meninas estão fazendo um doutorado em farmácia e haviam chegado em Sevilla havia menos de 30 dias. Pra me levarem no aeroporto elas pediram ajuda a um professor delas, que tem sido o seu cicerone na cidade desde que chegaram. Elas não sabiam o caminho e ele foi num carro na frente pra guiar elas. Simplesmente dois carros se mobilizaram pra me levar ao aeroporto conduzidos por pessoas que eu sequer conhecia antes. Que bacana!
E ainda fiquei sabendo por elas no caminho, que o tal professor delas e uma referencia bibliográfica na área de atendimento farmacêutico. Muito chic, né? Fui escoltada por uma referencia bibliográfica. Hehe
A Ibéria, companhia aérea, me colocou numa cadeira de rodas... Como eu não dobrava a perna, teria que ocupar mais de um assento... Primeiro a mocinha veio com um papo de que eu teria que comprar mais um bilhete para ocupar dois assentos... eu disse que não ia comprar, que eu daria um jeito... aí logo em seguida, me disseram que já haviam me mudado de lugar e que eu poderia ir num assento de três lugares só pra mim, pra eu viajar confortavelmente... bom.... deu tudo certo...
Cheguei ontem a noite em Madrid e lá estava o Ivan, amigo incansável, me esperando com as muletinhas no aeroporto. hehehe

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