18.3.07

Paris - Diário de Viagem






Paris, 3 de fevereiro 2007 – sábado

Bom, vamos lá. Estou em Paris. Estou em Paris com a perna machucada e sem poder andar pela cidade. Isto significa que estou morrendo de dor no coracao. Como alguém pode estar em paris enfurnada em um apartamento, sem sair pra ver a cidade mais linda do mundo????

Estou no apartamento de mais um amigo do meu pai, o Coutinho. Ele trabalha com o Cel Bermudes que e o adido militar aqui em Paris, todos amigos da familia. Pessoal da FAB e sempre solidário e gente boa.

Cheguei dia 30 de janeiro, terça –feira passada a noite. Fui recebida pelo motorista que da apoio a adidância e na vinda para a casa eu avistei a linda torre Eiffel iluminada. Ai que emoção.
O dia seguinte, ainda com medo de sair com a perna enfaixada, eu fiquei em casa... Mas já me enturmei com a Carita, filha do Coutinho que mora aqui, de 22 anos (queria saber por que a maioria das pessoas que conheço ultimamente tem 22 anos) e a noite os filhos do Cel Bermudes vieram aqui para um visita. São todos bem novinhos: O Grabriel, mais velho, tem 25, a Lais de 22 e o André de 19.
Passamos a noite toda tomando cerveja e jogando conversa fora. Foi divertido. O tio Coutinho ficou aqui contando as historias do motorista português, Seu Carlos (o que foi me buscar no aeroporto) e realmente, pelas historias, os portugueses fazem juz as piadas que fazemos deles.
Ele contou que teve um dia que o pneu do carro furou e que Seu Carlos se recusou a trocar pelo estepe e foi em outro carro levar o pneu furado para ser reparado porque “Em Franca e proibido andar sem estepe”. Pois é... parece piada de português, né?

Bem... no dia seguinte eu não consegui esperar. Fui ate a torre Eiffel. Eu tinha que ver Paris! Foi bem difícil chegar ate lá. Por que não colocam escadas rolantes ou elevadores nos metro? Pessoas machucadas, deficientes físicos, pessoas com malas ou com carrinho de crianças são impedidas de usar este meio de transporte que sem duvidas ‘e o mais pratico e eficiente na Europa.

Bom... depois de arrastar minha perna escadas pra cima e pra baixo, ainda tive que atravessar o Champ de Mars todo ate chegar na torre. Arf... Ai percebi que não tinha outro jeito senão apelar para os ônibus de turismo. Peguei o “Car Rouge”, que e destes ônibus de dois andares, abertos na parte de cima.
Eu sempre tive vontade de andar em um destes, mas ainda não tinha experimentado porque caminhar pelas cidades e sempre mais emocionante e bem mais barato. Mas já que desta vez as caminhadas estavam vetadas, eu aproveitei e paguei os 22 euros pros dois dias de tour.
E bem divertido andar la em cima, o problema e que estamos no inverno e apesar deste inverno nem estar tão frio como de costume aqui na Europa, na hora que o o ônibus começa a andar, o vento congela tudo!

Nossa... simplesmente fiquei apaixonada por Paris. E isso porque estamos nos típicos dias de inverno acinzentados, que não realçam a paisagem. Paris e definitivamente a cidade mais bela que já vi em toda minha vida. Tudo e deslumbrante. As pontes e edifícios ao longo do rio Sena são encantadores. A Torre Eifel e realmente fascinante. Não tem como explicar, mas Paris nos seduz a primeira vista.

E neste dia, 1 de fev, participamos do manifesto contra o aquecimento global. A Torre Eiffel se apagou por 5 minutos, assim como todos os parisienses apagaram as luzes de suas casas no mesmo momento, para se manifestarem pela causa. Aqui a Carita apagou as luzes e depois ligou pra todo mundo no skype pra contar que tinha participado! hehe

Tenho ainda aqui muitos dias pela frente, mas a ansiedade de sair e conhecer a cidade foi grande, principalmente depois de estar 10 dias “de molho”, sem sair de casa. Aceitei então a intimação dos meus novos amiguinhos pra sair pra uma balada... A turma toda foi pra famosa festa do “Erasmus” o programam de bolsas de estudantes que tem aqui na Europa e reúne a garotada toda quinta-feira no Planet Hollywood, que aqui fica na Champ Elysee.
La fui eu de “pata manca”. Doida de pedra, tirei a faixa e fui sem muletas. Achei que já tava preparada. Humm Sofri... Definitivamente as pernas foram feitas pra carregar a gente, e não a gente ter que carrega-las. Mas, depois de algumas vodkas com “jus de pomme” (suco de maca ) eu já não estava era sentindo mais nada.... J
Dancei a beca, lógico que sempre apoiando mais na outra perna, o que fez as meninas me sacanearam dizendo que eu estava levando pra Franca a “dança da pata manca”... hehe

Muito divertido, apesar da pirralhada de vinte e pouquíssimos anos, mas... “c’est la vie”...
Acho que a parte que mais gostei foi a saída..todos super bêbados andando pela Champ de Elise.. e eu avistando o Arco do Triunfo todo iluminado... parecia uma visão... achei tudo lindoooo... Acho que estou mesmo deslumbrada com Paris.

Resultados catastróficos no dia seguinte. Ressaca braba e uma dor na batata das pernas... forcei demais... agora agüenta!

Não me deixei abater e lá fui fazer meu tour no “Car Rouge”. Desta vez eu desci na Notre Dame. Ela e bem menor do que eu imaginava (talvez porque estou fazendo comparações com outras como a catedral de Sevilla que e muito maior) mas sem duvidas a Notre Dame tem todo um charme especial. As igrejas góticas para mim são as mais lindas. Adoro os arcos em ogivas e seus vitrais coloridos.
Entrei e logo me sentei pra descansar a perna.... de repente a igreja começou a encher e quando vi todos os assentos estavam ocupados. Imaginei que iria começar alguma missa. E não deu outra. Se iniciou uma missa ortodoxa com todos os seus rituais, incensos, os padres com seus chapeuzinhos que parecem rabinos... barbas de profeta e tudo mais. Foi lindo. Com direito a coral e órgão, foi uma das coisas mais emocionantes que já presenciei.
Quando o órgão começou a tocar, com toda aquela acústica, em plena Notre Dame, pensei que a qualquer momento iria aparecer o “corcunda”... hehe E o coral, nossa... aquela musica penetrou na minha alma e eu entendi como que as Igrejas sempre foram tão persuasivas. Estas catedrais com toda sua magnetude, grandiosidade, beleza artística e ainda estar sob a luz mágica dos seus vitrais ao som de um coral que ecoa por todos os arcos e abóbodas...nossa.... só estando ali pra saber como e.

Foi incrível porque quando estive na catedral de Sevilla e vi o tamanho do órgão e do coral, fiquei imaginando como seria estar ali e escutar tudo aquilo ressonando pela catedral e ainda comentei com a Tais: “daria tudo pra ouvir um coral cantando numa catedral destas”.
E quando comecei a escutar ali na Notre Dame, me arrepiei e pensei: “meu pedido foi atendido”.

Quando me dei conta, já eram 19h e eu havia acabado de perder o ultimo “car rouge” que ia passar ali. Perdi o resto do tour e ainda tive que ficar debaixo de uma chuvinha fina que havia acabado de começar, para pagar um táxi pra vir embora. Putz... mas... frase da semana: “c’est la vie”.

Resultados mais catastróficos ainda no dia seguinte. Minha perna amanheceu inchada e as batatas das duas pernas completamente contraídas... Tive que tomar um relaxante muscular e ficar de molho mesmo.

Em pleno sábado em Paris (ai “mon Dieux” ) eu dentro de casa...
Assisti uns filmes que a Carita tem aqui... Um super- mega- ultra água com açúcar para adolescente que se chama “ Looky alguma coisa” muito surreal... depois desse resolvi assistir pela quarta vez “ANTES DO AMANHECER” porque achei que tinha tudo a ver ...
Esse filme e muito perfeito ....
Tem tantos momentos que me identifico.. Principalmente agora. Antes eu havia visto sem conhecer a Europa... e sem ter passado por tantas experiências de que o filme fala sobre. São tantas coisas que gosto neste filme... A começar pelo personagem que sai andando de trem Europa afora depois de levar o fora da namorada... e quando pensa que esta mais sozinho do que nunca, encontra uma pessoa que percebe ser a mais especial que já conheceu ate então...
Adoro qd eles comentam como sentem a vida. Ela se sente como uma velhinha que vive de suas memórias passadas... e ele se sente como um garoto adolescente que esta esperando virar adulto pra começar a viver de verdade... que esta vivendo apenas o ensaio geral antes da peca começar. Isso mostra a nossa dificuldade de viver o presente, colocando expectativas no futuro ou apegos no passado.
Eu sempre me senti assim como ele. Vivendo apenas o ensaio geral. Parece que minha vida ainda esta pra começar. E percebo que de certa forma eu coloquei expectativas nos meus 30. Porque ainda estaria jovem e já teria amadurecido pra viver como sempre achei que deveria.
Mas na verdade estamos sempre achando desculpas pra deixar de fazer o que tem que ser feito. Não estou falando de obrigações... tipo lavar a louca suja ou entregar o trabalho da faculdade.. estou falando das coisas que importam pra nos mesmo. Os projetos de vida, das coisas que vão nos fazer feliz... e que deixamos pra depois, pra depois..

Adoro muitas e muitas coisas neste filme. Acho que principalmente porque eles abordam o amor de uma maneira tão realista e ao mesmo tempo tão poética...


Também assisti CRASH... uau..que filme! Não sei por que não havia assistido antes, mas enfim...
Crash e impressionante. Todos com suas dores e medos que se convertem em raiva, que se convertem em intolerância que se convertem em preconceitos. Todos iguais, iguais em suas dores e em seus medos.
Precisamos do toque, do toque de carinhos e como desaprendemos a amar, substituímos os carinhos por CRASH. Essa e a base de toda a nossa relação humana. Por que brigamos em vez de nos unirmos? Por que batemos em vez de nos abraçarmos? Por que odiamos em vez de nos amarmos? Por que sentimos tanto medo e desconfiança ao invés de sermos solidários e generosos? O mundo faz guerra enquanto almeja paz. Estaremos todos tão traumatizados a ponto de não sabermos mais estender a mão?

Nenhum comentário: